Hoje eu vi um menino desconhecido chorar. Ele não sabe mas eu chorei junto, e não sei muito bem o que pensar disso. Tentei refletir o porquê a dor de um ser humano que não possui o mínimo de contado comigo doeu tanto em mim. Parecia-me um amigo. E fico tão mal quando lembro dos olhos vermelhos que se erguiam embaixo do boné. "Não, to de boa, ta tudo bem" - foi a sua única reação, a qual conteve qualquer uma pensável e impensável minha. O que eu poderia fazer? E olhando de longe aquilo me doía... Eu deveria ter voltado.. mas o que eu falaria? Como ajudaria? Foi desilusão amorosa ou perda de um familiar querido? São tantas as perguntas... E quando a coragem veio á tona já era tarde. Foi-se a chance. Sei que eu não senti nem metade do que ele estava sentindo, mas de certa forma aquela dor saciou-se do meu corpo, e quem dera eu tivesse todo esse poder, pegaria-a inteira para mim. Eu fiquei com vontade de te conhecer e ficar do seu lado para não te ver mais chorar, e depois de um tempo te dizer: desculpe não poder ajudar. - Você vai ficar bem.
"Em mim
eu vejo
o outro
e outro
e outro
enfim dezenas
trens passando
vagões cheios de gente
centenas
o outro
que há em mim
é você
você
e você
assim como
eu estou em você
eu estou nele
em nós
e só quando
estamos em nós
estamos em paz
mesmo que estejamos a sós"
Leminski.
